terça-feira, 3 de agosto de 2010

Palhaços de neve

SEGUNDO CADERNO DO JORNAL ZERO HORA

O palhaço não faz apenas rir - ele também emociona, provoca, enternece, convida à reflexão. Quando está em cena, o clown pode tudo - inclusive invocar uma tempestade de neve dentro do teatro. A trupe comandada pelo russo Slava Polunin chega a Porto Alegre nesta segunda-feira (9/8) com um belíssimo show que mostra que o palhaço é muito mais do que apenas a alegria do circo.

Considerado o palhaço mais importante do mundo em atividade, vencedor dos principais prêmios internacionais do gênero, Slava Polunin concebeu em 1993 o espetáculo Slava’s Snowshow. A montagem já excursionou por cerca de uma centena de cidades em 35 países - totalizando mais de 3,2 mil performances e um público superior a 3,2 milhões de pessoas.

Já passaram pela companhia criada pelo russo em 1979 alguns dos melhores artistas do clown - como é conhecida a arte e a técnica dos palhaços -, incluindo integrantes de montagens do Cirque du Soleil. O próprio Polunin juntou-se ao grupo canadense na década de 1990 e criou números para O, La Nouba e Alegría - o final arrebatador de Slava’s Snowshow repete o esquete apresentado nessa produção do Cirque du Soleil, que veio à Capital em 2008.

- A técnica de circo de picadeiro é diferente, é para gargalhar. Aqui, tem que se comunicar de dentro, de pessoa para pessoa - explicou em entrevista a Zero Hora o russo Gary Cherniakhovskii, diretor de arte do show, que veio ao Brasil para acompanhar a estreia em São Paulo, no dia 14 de julho.

Sucesso na Broadway, a meca do teatro nova-iorquino, Slava’s Snowshow dispensa as palavras para comunicar-se: no palco, os oito palhaços interagem entre si e com o público apenas com gestos, expressões faciais e músicas. A cenografia e o figurino também são simples e quase artesanais, conferindo um tom nostálgico e quase melancólico à encenação - água, iluminação bem afinada, teias de aranha de algodão, bolhas, bolas gigantescas de plástico e gelo seco são os elementos básicos utilizados nas momices.

- Esse espetáculo começou a nascer ainda no tempo da União Soviética. Era um tempo de mediocridade, sem cor, em que as pessoas não tinham espaço para respirar, triste. Era preciso que os clowns aparecessem no fundo cinza trazendo cores - relembra Cherniakhovskii.

A figura central de Slava’s Snowshow é um palhaço chamado simplesmente de Amarelo - originalmente interpretado pelo próprio Slava Polunin, que no entanto não veio ao Brasil com a atual turnê. Lembrando artistas como Charles Chaplin e Marcel Marceau, o personagem vestindo um enorme tip top amarelo e um cachecol vermelho protagoniza esquetes cômicos ao lado dos Palhaços Verdes - todos usando o mesmo figurino (jaquetas verdes, gorros de abas enormes e sapatos gigantescos), parecendo um bando alegre de bêbados vagando no rigoroso inverno russo.

Mais do que audiência, os espectadores servem também de “escada” para brincadeiras e piadas dos palhaços, em que o humor non sense alia-se a uma visão poética do mundo.

- É um espetáculo para adultos, mas quando você vê, está cheio de crianças. Na verdade, é um espetáculo para toda a humanidade - resume o diretor de arte do show.

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